![]() |
Arte de Weberson Santiago |
Toda
padaria tem uma Maria. A Maria da padaria que eu frequento é briguenta e, as
vezes mal-humorada, mas ninguém faz um pão francês com queijo minas, tomate e
orégano como a Maria. Reclama da colega de trabalho que não faz o seu serviço,
de um cliente chato, mas serve a gente muito bem e faz tempo.
Serviu o
café das manhãs das nossas primeiras noites juntos, serviu a família quando a
Ane era pequena e seu pão na chapa me serviu de ombro quando tive a primeira
briga com a Natália. Eu cheguei cabisbaixo, emburrado. Ela notou e perguntou o
que eu tinha. Falei que estava com um problema em casa e ela disse que tinha
tido um problema de doença na família durante aquela noite.
Nem eu
nem ela entramos em detalhes, mas a Maria me serviu até como cúmplice de um
péssimo dia com problemas. Tentou me animar colocando mais espuma no pingado
com café expresso de sempre para que tomasse o café com leite como se entrasse
em uma banheira de hidromassagem. Eu retribuí dizendo que torcia para que o problema
de saúde na família fosse resolvido.
Maria também
não deixou de sorrir com o canto da boca quando nos assistiu entrando no café
da manhã depois da reconciliação, demonstrando saber qual era o problema que eu
me referia na visita anterior. Acabou esquecendo do resmungo no meio quando nos
viu. E caprichou no pão francês com queijo minas, tomate e orégano que
dividimos ao meio naquele dia.
Se ela
sabe quando estou triste, eu sei quando a Maria está animada: ela passa um
lápis azul claro na linha dos cílios das suas pálpebras. Mas ela também sabe
quando acordo animado para ir ao trabalho:
“caprichou na camisa hoje, hein?!”.
No fim
do último ano, cheguei e encontrei a Maria estabanada. Ela me contou que estava
tentando parar de fumar e a ansiedade e o nervosismo estavam nas alturas. “Calma,
Maria, tenta dar uma respirada. Isso que você está sentindo é a abstinência,
mas ela passa. Corta uns palitos de cenoura pra ir comendo”, disse tentando
ajudar. “Ih! Já chupei um pacote de balas e não adiantou nada!”, respondeu ela.
Uma
semana depois, cheguei com a Natália e a Ane e perguntei para a Maria como
estava no propósito de parar de fumar. Ela disse que não tinha conseguido, mas
que ia ao médico para procurar um remédio que a ajudasse e iria tentar de novo
assim que saísse de férias na segunda-feira. Eu fiquei triste pela tentativa
frustrada, enquanto a Natália lhe animava a tentar mais uma vez.
E assim
a vida vai passando enquanto a gente come o pão e toma o café preto de cada
dia. Algumas coisas começam, outras terminam, mas a padaria e a Maria estão
sempre ali, de braços abertos para a vida.
Toda
padaria tem uma Maria, mas para nós, a Maria da nossa padaria é a melhor. Deve
ser porque toda Maria tem uma padaria dentro de si para oferecer aos seus
fregueses.
| O que você oferece as pessoas ao seu redor no café da manhã?
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário